Há algum tempo, estava eu na antessala do dentista, com aquela vontade de sair correndo e não olhar para trás, quando, buscando me distrair, vi, na mesinha do lado, uma meia folha com o seguinte título: “pesquisa”.
O questionário
Lá estavam meia dúzia de perguntas, ao estilo questionário, e o convite a colaborar para as melhorias do negócio.
Desse modo, entre as questões, constavam as seguintes, com as opções de resposta – Ótimo, Bom, Razoável, Ruim, Péssimo.
1) O que você acha das instalações?
Fiquei eu ali, com a folhinha na mão, pensativa: a quais instalações eles estariam se referindo? Pois o local compreendia diferentes consultórios, sala de espera, estacionamento, e neles havia equipamentos, mobiliários, tv.
Meu incômodo era: se eu respondesse bom, seria bom para tudo. Mas havia coisas boas e coisas ruins em cada instalação e havia instalações/salas boas e outras ruins. Então, pensei: vou passar essa. Vamos para a próxima.
2) O que você acha do atendimento?
Bem, aí complicou mesmo por que: o da secretária era razoável, o do dono péssimo, um dos dentistas era (e é) ótimo, o outro somente bom. Afinal, eu me perguntava, ao atendimento de quem eles estariam se referindo? Se eu respondesse bom, seria bom para tudo (lembrei do dono e decidi que: não!); se respondesse péssimo, incluiria o dentista fantástico. Isso não era justo.
Abandonei a distração, enquanto concluía: em que esta pesquisa vai ajudar nas melhorias se as perguntas levam a respostas enviesadas?
Entrei no consultório, expliquei rapidamente isso ao dentista, que ficou mais decepcionado do que eu. Na próxima consulta, não sei se por coincidência, a pesquisa já não estava lá.
O que isso tem a ver com pesquisa acadêmica? Tudo, pois a qualidade da pergunta reflete diretamente na qualidade da resposta, independente do âmbito ou do objetivo.
Sobre isso aprendi quando tive a oportunidade de trabalhar com a competente equipe do Instituto de Investigação em Política Linguística, participando de inventários de línguas, censos linguísticos e diagnósticos sociolinguísticos.
O episódio do dentista descrito ilustra bem o fato de que, se você vai elaborar um questionário para sua pesquisa acadêmica (ou não), é importante ter claro que tipo de resposta você busca e qual a finalidade dos dados a serem obtidos.
Sem isso, você pode não alcançar seus objetivos de estudo e, depois de lidar com um material que de nada serve, descobrir que vai ter de rever a metodologia e o cronograma da pesquisa.
Assim, que você achou deste texto?
( ) Bom. Por quê?
( ) Ruim. Por quê?
Seguimos!
Fonte da imagem: Pixabay